A passagem anárquica

A filósofa italiana autora de O Virus Soberano?, também publicado pelas Edições 70, trata de outro tema actual no seu último livro: a revolta e o significado da sua propagação em todo o mundo.

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Donatella Di Cesare: a revolta como um tempo “em que se vive na libertação: livres do jugo do lugar, da identidade e da pertença” DR

“A figura do estrangeiro submete o habitar a um abalo, à estranheza, erradica-o da terra. Arranca-o à posse, à pertença, ao ter, transfere-o para o ser, remete-o para uma existência no mundo que é uma estadia transitória”. Assim escreveu Donatella Di Cesare numa das páginas centrais de Stranieri residenti. Una filosofia della migrazione (Bollati Boringhieri, 2017). São páginas dedicadas à tradição judaica, da qual Di Cesare extraiu o conceito-chave de gher toshàv que dá título ao livro e que, na sua leitura original, quebra a dicotomia entre condição estrangeira e condição de residente, impõe que se repense o nosso habitar e se redefina a própria categoria de cidadania: “Segundo a constituição política da Torah, todos os cidadãos são estrangeiros, todos os habitantes são hóspedes ... estrangeiros e residentes temporários. Precisamente como estrangeiro pode-se ser residente, mas o residente, pelo contrário, só pode ser estrangeiro ”.

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