Magnatas do metro quadrado

O preço do metro quadrado tornou-se insustentável. São vendidos por quatro dígitos, num país onde o ordenado mínimo ainda se contenta com três.

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Megafone P3: Magnatas do metro quadrado Rui Gaudêncio
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A procura de petróleo sempre foi sinónima de carteiras recheadas. É gerador de riquezas, impulsionadora de luxos e equivalente ao negócio de ouro e diamantes. Mas hodiernamente, o verdadeiro luxo mede-se em metros quadrados.

Construir na horizontal transformou-se um luxo do interior; construir em altura converteu-se no sonho dos mais recentes magnatas do litoral. Um negócio que transformou muitos inquilinos em verdadeiros patrões, afinal, no fim do mês é um ordenado a ser pago ao senhorio. Um senhorio que quase virou funcionário...

Aperaltados, senhores de si, barba feita, cabelo arranjado, fatinho de marca e carro jeitoso, são senhorios que fazem parte da nova aristocracia, os detentores do mercado imobiliário.

Morar sozinho converteu-se num luxo, o truque é ter amigos e com sorte sair em casal. Fins-de-semana transformaram-se numa proibição, afinal muitos querem usufruir do seu investimento mensal. Fora esse mais pequeno.

As imobiliárias fogosas por vender... Casas que antes valiam menos que um pote de azeite, hoje são arrematadas a preço de lagar. Do oito ao oitenta.

No ato da escritura, o trabalhador contenta-se com a compra do apartamento, o rico fica alegre com a compra do andar. E as diferenças partem por aí. No cerne da questão: o metro quadrado tornou-se um gerador riqueza. O investimento deveria ter sido pensado no momento da brincadeira de infantário, sabia-se lá...

Metros quadrados a serem vendidos por quatro dígitos, num país onde o ordenado mínimo ainda se contenta com três. O interior a querer preços de litoral e o litoral a querer preços das maiores avenidas e vistas de Paris. Locais geradores de trabalho, mas não criadores de empregos, dissuasores de matérias de faculdade e incentivo aos três dígitos, empurrando serenamente os novos adultos para fora e atraindo os antigos adultos para a miséria.

Tal foi o incentivo ao produto nacional, que a valorização do metro quadrado português disparou... De facto este país sempre foi muito inteligente, procriador de ótimas matérias, contudo, exportadas e compradas finalizadas.

Já diria a lei n.º 83/2019, lei de bases da habitação, que prevê o direito à habitação para todos, mas que, na prática, parece estar apenas a incentivar a venda de material de campismo. Estamos perante os novos magnatas, os verdadeiros senhores do tesouro português.

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