Editora Orfeu Negro estreia-se na ficção com duas obras de Conceição Evaristo

Olhos d’Água e Canção para Ninar Menino Grande, de uma das mais importantes escritoras afro-brasileiras, vão ser lançados em Outubro no festival FOLIO, em Óbidos.

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Conceição Evaristo Daniel Rocha
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A editora Orfeu Negro, especializada na publicação de ensaios, vai estrear-se no mercado da ficção com o lançamento de duas obras da escritora afro-brasileira Conceição Evaristo, uma das autoras e activistas mais relevantes do Brasil, ainda inédita em Portugal.

Olhos d'Água e Canção para Ninar Menino Grande são os primeiros títulos desta nova série, com lançamento marcado para dia 12 de Outubro no FOLIO - Festival Literário Internacional de Óbidos, anunciou esta quinta-feira a Orfeu Negro.

As duas obras são editadas em simultâneo, com a presença da autora, que estará à conversa com a poeta e historiadora angolana Ana Paula Tavares, numa sessão apresentada e moderada pela escritora, artista e activista Gisela Casimiro. Segundo a editora, os primeiros dois títulos a entrar no catálogo "são um mergulho fundo na 'escrevivência' de Conceição Evaristo", destacando o termo – e filosofia de vida​ –​ cunhado pela autora, que tem servido de referência a vários artistas contemporâneos.

Conceição Evaristo, de 77 anos, linguista e escritora, ex-docente universitária e investigadora, é um dos nomes literários mais influentes do movimento pós-modernista no Brasil, dedicando-se aos géneros da poesia, romance, conto e ensaio. A discriminação racial, de género e de classe são temas transversais a toda a sua obra, que nos últimos anos tem sido reconhecida e celebrada como peça central no movimento negro brasileiro.

Em 2018, foi distinguida com o Prémio Governo de Minas Gerais de Literatura pela totalidade da sua obra; em 2019, recebeu o Prémio Jabuti como personalidade literária; e, em 2023, o Prémio Intelectual do Ano, atribuído pela União Brasileira de Escritores.

Olhos d'Água (2014), livro galardoado com o Prémio Jabuti e um dos mais incontornáveis do seu percurso, reúne quinze contos que atravessam a pobreza e a violência urbana, convocando os dilemas sociais e existenciais das comunidades afro-brasileiras que a própria autora – nascida numa favela de Belo Horizonte, numa família de nove irmãos, completando a escola secundária apenas aos 25 anos – vivenciou na primeira pessoa.

Já em Canção para Ninar Menino Grande (2022), o seu mais recente romance, Conceição Evaristo entra no território da masculinidade, expondo as suas contradições e complexidades, e fazendo dele uma canção para mulheres livres. Trata-se de um mosaico de experiências negras, narradas através das infelicidades amorosas de Fio Jasmim, um homem negro, trabalhador ferroviário, que se envolve com várias mulheres. As ilustrações das capas têm a assinatura de Catarina Bessell e de Susa Monteiro, respectivamente.

Após a sessão de lançamento dos livros no FOLIO, Conceição Evaristo vai orientar uma masterclass intitulada Escrevivência: Espelhos e imagens ancestrais, dia 13 na Casa da Música de Óbidos; apresentar trabalhos inéditos e escritos eróticos no Sarau de Poesia Erótica, no dia 14, em local a confirmar; e participar na conversa Descolonizar a memória, com a escritora Verenilde Pereira e com moderação de Carla Fernandes, dia 15 na Livraria Santiago, também em Óbidos.

A publicação destas obras inaugura uma colecção que representa um novo tentáculo na linha editorial da Orfeu Negro, que se dedica sobretudo a publicar ensaios e outros trabalhos documentais. As temáticas giram em torno das artes contemporâneas, dos estudos de género, da teoria queer, do feminismo e da crítica decolonial, reunindo no seu catálogo nomes essenciais como bell hooks, Audre Lorde, LeRoi Jones, Silvia Federici, Paul B. Preciado ou Françoise Vergès.