Portugal acompanha a média da OCDE na avaliação da literacia financeira

Estudo onde se avaliam os conhecimentos e comportamentos financeiros dos cidadãos abrange 30 países.

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OCDE diz que é preciso reforçar o nível de conhecimentos básicos entre a população a nível mundial Paulo Pimenta

Portugal surge em 10.º lugar num inquérito realizado em 30 países para medir os conhecimentos e os comportamentos financeiros dos cidadãos. Na avaliação global da literatura financeira, o país acompanha a média da Organização para a Cooperação e Desenvolvimento Económico (OCDE), que divulgou um estudo comparativo na noite desta terça-feira.

França, Finlândia e Noruega estão no topo. À frente de Portugal ainda há mais dois países europeus (a Bélgica e a Áustria), além do Canadá, Hong Kong, Nova Zelândia e Coreia do Sul. Mas os resultados extrapolados para a realidade portuguesa são melhores do a que é projectada para outros países europeus, como a Holanda, o Reino Unido, a Hungria ou a Estónia.

Para este inquérito foram ouvidas 51.650 pessoas nos 30 países, das quais 1006 em Portugal. Em cada território foi realizado um inquérito semelhante com perguntas centradas em três grandes temas: conhecimentos financeiros, comportamentos e atitudes. No primeiro caso, há perguntas e exercícios práticos onde se testam conceitos de inflação, diversificação de risco financeiro, cálculo de juros ou se procura medir se uma pessoa percebe bem a relação entre remuneração e risco; quanto aos comportamentos, as questões estão relacionadas com o orçamento familiar ou a contratação de produtos financeiros, por exemplo; e na última categoria, as perguntas estão mais relacionadas com o uso do dinheiro e a poupança.

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Numa avaliação global que vai de zero a 21, Portugal consegue uma ponderação de 14 pontos, sendo que a nota do país mais bem classificado (França) é de 14,9 pontos e a média da OCDE é ligeiramente inferior à avaliação portuguesa, de 13,7. Portugal sai-se ligeiramente melhor do que a média na categoria comportamentos, tem a mesma avaliação nas atitudes financeiras e fica próximo (ligeiramente abaixo) na avaliação dos conhecimentos financeiros da população.

Na avaliação de conhecimentos financeiros, Portugal consegue 4,8 pontos numa escala de zero a sete; na avaliação dos comportamentos soma 5,9 pontos e nas questões relacionadas com atitudes tem 3,4.

Em Portugal, o inquérito foi realizado em 2015 pelo Plano Nacional de Formação Financeira, que é desenvolvido pela CMVM (Comissão do Mercado de Valores Mobiliários), pelo Banco de Portugal e pela Autoridade de Supervisão de Seguros e Fundos de Pensões, através do Conselho Nacional de Supervisores Financeiros. Da plataforma INFE (International Network on Financial Education) fazem parte 250 instituições públicas de mais de cem países trocam experiências sobre literatura financeira, produzindo relatórios, estudos comparativos e acompanhando experiências e orientações de política sobre literatura financeira.

Os resultados relativos a Portugal, já conhecidos em Abril, e que servem de base à comparação da OCDE, mostram que o país está acima da média dos países no conhecimento dos conceitos de inflação e de diversificação de risco e em linha com a média dos países europeus na identificação dos juros de um empréstimo, cálculo de juros simples, juros compostos e na identificação da relação entre remuneração e risco.

Começar nas escolas

No conjunto dos 30 países, só 56% dos adultos que participaram no estudo conseguem uma pontuação pelo menos cinco em sete na avaliação de conhecimentos financeiros básicos. “Muitos adultos em todo o mundo são incapazes de alcançar o objectivo mínimo na pontuação relativa conhecimento financeiros”. Um caso concreto: a OCDE revela que a maior parte das pessoas (63% dos inquiridos e 66% entre os países da OCDE ali incluídos) tem conhecimento do conceito de inflação (percebe qual o impacto se a taxa se mantiver igual durante um ano).

Uma das conclusões do estudo a nível global tem a ver com as diferenças de género, porque há assimetrias assinaladas em alguns países. Segundo a organização, 61% dos homens inquiridos alcançam a pontuação mínima relativamente aos conhecimentos financeiros, enquanto a percentagem é de 51% nas mulheres.

Perante os resultados, a OCDE lembra que é preciso começar a educação financeira nas crianças e, de preferência, nas escolas. E sublinha que é também premente reforçar o nível de conhecimentos básicos entre a população, atendendo às questões de género.

Em Portugal, o plano de promoção da literacia financeira é coordenado pelo Conselho Nacional de Supervisores Financeiros, que pela segunda vez lançou um inquérito como este (o primeiro foi em 2010 e o último em 2015) e, além da aposta na promoção da literacia financeira nas escolas, também alargou iniciativas para chegar a formação às empresas.

No ano lectivo passado, foi já realizada uma experiência-piloto em 50 escolas para avaliar a aplicação na sala de aula de um caderno escolar dirigido aos alunos do 1.º ciclo do ensino básico.

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